quinta-feira, 29 de setembro de 2011

RESENHA DO LIVRO "O TRATO DOS VIVENTES" CAP. 1 "O APRENDIZADO DA COLONIZAÇÃO"

Luis Felipe de Alencastro mostra como se deu a formação do Brasil fora do Brasil. Obviamente que aqui ao falar de "Brasil" estou apenas fazendo referência ao território estudado, pois na época não se tinha essa noção o Brasil era apenas colônia de Portugal.
O autor fala dessa formação a partir da colonização, como resultado do aprendizado dos colonos, afinal a colonização não foi um processo já pronto. não bastava apenas a presença dos colonos num determinado território para garantir e assegurar a exploração econômica e consequentemente o seu desenvolvimento.
É de se entender que a garantia do domínio colonial teria de vir acompanhado do domínio do mercado.
Vamos fazer a seguinte reflexão:
em termos de colonização percebe-se que sempre que um território é "descoberto" por alguma metrópole, a grande preocupação é criar e se apropriar do excedente econômico na região ocupada.
Assim podemos entender também a forma de colonização portuguesa, porém apresentou uma estrutura muito mais complexa. Não foi só chegar, colonizar e pronto.
Toda a estrutura mercantilista foi montada pela coroa portuguesa para se apropriar do excedente colonial do Atlântico Sul. Por que alem do Pau-Brasil, em certo momento da história os colonos resolveram investir no cultivo da cana-de-açúcar, o que ia além do Oceano Atlântico, pois o trabalho com a cana-de-açúcar dependia do tráfico de negros escravizados que vinha da África e o controle desse sistema de tráfico dava a eles grande força no sistema açucareiro na colônia. 
Esse foi o segredo do sucesso, nesse momento o aprendizado da colonização passou a interagir com o aprendizado do mercado.
E  é nesse contexto que o tráfico surge como "alavancagem do Império do Ocidente" este responsável pela modificação de escravidão e escravismo, um sistema que extrapolava operações de compra,transporte e venda de africanos para moldar o conjunto da economia, da demografia, da sociedade e da política da América Portuguesa.
Sendo assim o sistema de exploração colonial seria no Atlântico Sul unificado como se não houvesse interrupção, como eu acredito que não havia mesmo!
Apesar dessa unificação podemos perceber e classificar os dois lados desse sistema: o lado de cá, onde ficava os enclaves da produção, os engenhos de açúcar, as minas de ouro, os rebanhos bovinos, todos fundamentados no trabalho escravo, e o lado de lá, áreas nas quais se produzia e reproduzia a mão-de-obra servil. 

  CAP.  2"AFRICANOS:ESCRAVOS DA GUINÉ"


Neste Alencastro nos leva até África, aos escravos da Guiné, onde se explica as origens, o processo de colonização, o progresso, influência e declínio do trato negreiro, considerando os pontos de partida e destino. A geografia comercial e a ideologia cristã da época corroboram com os argumentos do autor. A África alimenta o trato pelo Atlântico Sul até a América. Os pólos são pensados em conjunto. 
 Ásia e África (‘China e Mina’) foram as duas pontas da economia e da circulação portuguesa, pois eram sinônimos de negócio vantajoso e pouco risco. No início, o tráfico negreiro era feitoapenas em alguns pontos do litoral africano, e os nativos eram capturados através de tocaias armadas pelos corsários:
percebe-se que a pilhagem das aldeias africanas por corsários e piratas europeus não daria conta, por si só, da demanda escravista se avolumando na península Ibérica.

Geografia comercial e história africana favorecem a penetração européia. Rios cursados pelos nativos, e em particular o Senegal, o Cacheu e o Gâmbia, traziam os escambos dos sertões para o litoral. Do rio Senegal se irradiava uma rede de trocas com a bacia do Níger, formando um sistema mercantil de rotas fluviais e terrestres que interligava a Senegâmbia e o golfo de Guiné  Aqui reside uma diferença básica entre a África e a América pré-europeias, várias sociedades subsaarianas conheciam o valor mercantil do escravo.
Portos e feiras de trato contribuem para ampliar o mercado negreiro na zona subsaariana. Mas não encontram similares na América portuguesa, onde jamais surgiram como pólos geradores do tráfico de indígenas.
Brancos e mulatos apelidados lançados ou tangomaus varam rios da Alta Guiné permutando fazendas nativas e estrangeiras. Aventureiros, degredados ou cristãos-novos deportados, os lançados – correndo por fora do monopólio metropolitano – repercutem o impacto europeu para dentro das praias.